Quando, nos idos anos 30 do século passado, um jovem recém-licenciado da Escola Médica do Porto regressa à sua cidade-natal, inicia uma pequena revolução na forma de exercer medicina em Viseu; o jovem médico traz novas ideias, conhece e aplica novas técnicas no tratamento, quer médico, quer cirúrgico de diversas enfermidades, conferindo um teor científico nunca visto à prática médica na região. Neste percurso, é ajudado por outros médicos, eles também sedentos de saber e de bem fazer. Inaugura-se o INAT (Serviço de Assistência aos Tuberculosos), cria-se um Banco de Sangue, luta-se pela presença física durante as 24 horas de um médico no então Hospital da Misericórdia (o embrião de um verdadeiro Serviço de Urgência). Mas o jovem clínico é também um membro muito activo da sociedade: entre outras iniciativas, é dele a ideia da criação do Clube Rotário de Viseu. Esta constante actividade, bem como a sua forma serena e sempre elegante de estar, catapultam-no, quer profissional, quer socialmente; no entanto, o não alinhamento com as políticas salazaristas do pós-guerra, que culminam com o seu apoio explícito ao candidato da oposição às Eleições Presidenciais de 1959, acabam por lhe trazer dissabores, permitindo aos seus adversários colocar em "fora-de-jogo" um tal incómodo elemento, desestabilizador do imutável "status-quo". Mas os desafios ainda não tinham chegado ao fim! Os anos sessenta do século XX encontram-no em Lisboa, a trabalhar nos Hospitais Civis, cirurgião consagrado e finalmente reconhecido. Não esquece, no entanto, a sua terra e é aí que passa os seus últimos (e longos) anos, após a reforma. Este livro é um acto de amor e de respeito. Assim se compreende a forma dedicada como o autor procurou, nas mais diversas e dispersas fontes, o material que, após exaustiva recolha, foi persistentemente trabalhado até ao surgimento desta obra, que é uma merecida homenagem de um filho ao seu pai. João Machado Médico, sobrinho de Rogério Leitão Cardoso